sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Alessandra Leão - Dois Cordões (2009)
01. Varanda
02. Boa Hora
03. Bom Dia
04. Atirei
05. Fogo
06. Luzia, Rainha do Baianá-Tombo do Navio
07. Trancelim
08. Andei
09. Partilha
10. Vou me Balançar
11. Ai, Dendê
12. Chave de Ouro
Coro: China e Jr. Black
Alessandra Leão é percussionista, compositora e cantora. Participou da fundação do grupo Comadre Fulozinha , sendo esse seu primeiro trabalho profissional. Nesses 12 anos atuando mercado musical, teve o privilégio de trabalhar ao lado de músicos como Antônio Carlos Nóbrega, Siba, Silvério Pessoa, Zé Neguinho do Coco, entre outros...Desde 2004, idealizou e coordena o projeto coletivo Folia de Santo, que se propõe a compor músicas baseadas nas tradições ligadas ao “catolicismo popular”. O CD homônimo foi lançado em dezembro de 2008, durante as gravações do DVD homônimo. Em 2006, Alessandra deu início ao seu trabalho autoral, com o elogiado Brinquedo de Tambor. Produzido e arranjado em parceria com o violeiro, compositor e arranjador Caçapa. O CD “Brinquedo de Tambor” entrou para a lista dos 10 melhores discos de 2006 do Prêmio Urirapuru, da revista gaúcha “O Dilúvio”; e em janeiro de 2008 teve duas músicas recomendadas no playlist do músico americano David Byrne. Em 2007, foi uma das selecionadas no Programa Rumos Itaú Cultural , na cartilha Mapeamento. Participa do Admiral Recife , fundado a convite do projeto Era Iluminada – Mangue Beat (Sesc Pompéia -SP), ao lado de nomes como Jorge Du Peixe, Siba, Dengue, Canibal, Júnio Barreto, Lia de Itamaracá, entre outros. Em 2009, foi convidada para participar do Festival Carnaval de Las Artes, em Barranquilla, Colômbia. Dois Cordões, o segundo CD solo, foi produzido com patrocínio da Petrobras através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a apartir da seleção no Programa Petrobrás Cultura, e dá continuidade à parceria com Caçapa. O seu lançamento está previsto para outubro de 2009 em quatro capitais do Nordeste – São Luiz, Fortaleza, Salvador e Recife.
DOIS CORDÕES - O CD.
Em meio à recente explosão de jovens cantoras cool, urbanas, muitas delas centradas no samba carioca, três anos atrás saltou aos ouvidos de alguns privilegiados o disco de estréia da pernambucana Alessandra Leão, Brinquedo de Tambor. Ao invés de polimento, suavidade ou as sonoridades mais hype, o CD da ex-integrante do Comadre Fulozinha gritava sua aspereza, revelando também uma surpreendente compositora, com um raro frescor no manejo da música tradicional do litoral e Zona da Mata nordestina. O paralelo mais imediato para situar as referências seria o amigo Siba e sua Fuloresta do Samba, que também escondem por trás de sonoridades ancestrais uma radical atualidade. Mas o disco de estréia, ainda que farto em contrapontos e usando algumas guitarras, ainda era um tanto reverente às tradições de que se apropriava. Pois neste novo CD - Dois Cordões, a coisa amadureceu como se décadas, e não anos, houvessem passado. Nele, a idéia de arranjo e sonoridade (obra do produtor/arranjador/instrumentista Caçapa) é inseparável do resultado final: uma combinação 100% inédita dos timbres de três guitarras elétricas (de 6, 7 e 12 cordas), em camas quase nunca harmônicas, mas sim complexamente polifônicas. Tecidos sonoros que devem tributo tanto aos estudos eruditos europeus de contraponto e fuga quanto a escuta atenta dos mestres da música africana, igualmente polifônica e não-harmônica. E essa meticulosa rede de vozes instrumentais é alicerçada à terra não por acaso por um místico (e mítico) trio de ilús: tambores de pela utilizados nos terreiros de Xangô (como é conhecido o candomblé em Pernambuco). E a moldura do disco é essa. Pouco mais, pra dar molho: um pandeiro aqui, caxixis ali, talking drums, güiro, ganzá, eventuais coros. Só que nada disso seria mais do que curioso ineditismo se, sobre essa tessitura, não flutuasse como ave rara a voz de Alessandra. Uma voz por vezes doce e jovial, por vezes crestada numa alegria ancestral que ecoa essa gente simples dos interiores de Norte e Nordeste, gente que canta porque não sabe não cantar. Essa gente humilde e feliz, feliz de uma felicidade muitas vezes incompreensível para urbanos e/ou sulistas. Mas do que fala essa voz? Sobre o que escreve essa compositora única, que abre as asas sobre o chão de terra e paira sobre o mundo, sobre sentimentos universais, sobre dramas de qualquer cidadão do planeta? Fala de (ser) par, de dualidade, de chegadas e de partidas. Fala de Ogum e de Iemanjá. De amor e violência, fogo e mar, tradição e contemporaneidade. África e América, elétrico e acústico. Tensão e festa. Fala de gente. E é essa, acima de tudo a força desses Dois Cordões. É um disco de gente. Gente falando de gente. Texto: Arthur de Faria
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