terça-feira, 28 de setembro de 2010
Célia - O Lado Oculto das Canções (2010)
01- Vinho Antigo (Biafra)
02- Se Não For Amor (Benito Di Paula)
03- Não Vou Ficar (Tim Maia)
04- Cantiga de Quem Está Só (Jair Amorim e Evaldo Gouveia)
05- Desejo de Mulher (Hamilton de Hollanda e Zélia Duncan)
06- Sonhos (Peninha)
07- Vidas inteiras (Adriana Calcanhoto), om citação de Dejame ir (Chico Novarro e Mike Ribas)
08- Eternamente (Tunai e Sergio Natureza)
09- Aqui (Ana Carolina e Totonho Villeroy)
10- Meu Benzinho (Ângela Ro Ro)
11- Cigarro (Zeca Baleiro)
12- Apelo (Baden Powell e Vinicius de Moraes)
13- Não Se Vá (Jane & Herondy),com Ney Matogrosso
14- Êxtase (Guilherme Arantes)
A proposta talvez fosse a de trazer para um universo mais sofisticado e elitizado, o da MPB, canções tidas como popularescas (pela facilidade melódica), vulgares (pelas gravações originais pouco elaboradas) ou apelativas (pelo sentimentalismo das letras). Trazer para este olimpo impenetrável que alguns creem ser a MPB, esquecendo-se do que quer dizer o "P" da sigla. Mas o que traz O lado oculto das canções - novo disco de Célia, que também serve para celebrar os seus 40 anos de carreira - não é extamente isso. É muito mais. Célia - certamente escorada na opinião de gente muito antenada e competente (produtores, amigos, colegas) - montou um roteiro bastante variado, que transita tanto entre o que é considerado brega, quanto entre o que se convencionou chamar de cult; vai do romântico derramado ao lirismo mais sutil; abraça a canção do puro sofrimento, se enrola no tema quase-deboche e sai de mãos dadas com a fina-flor da MPB. E Célia só não construiu, assim, um Frankeinstein musical por dois motivos: porque está cantando muito e lindamente; e porque conseguiu ter arranjos coerentes entre as faixas. Que Célia é uma grande cantora, isso não é novidade. Quem conhece os sus discos da década de 70 sabe bem do que ela é capaz. E quem tem ouvido seus trabalhos mais recentes sabe também do quanto sua voz envelheceu bem. Célia continua com a voz volumosa, ampla, potente, mas sem deixar que a rouquidão tomasse conta de tudo, conseguindo, quando quer, por outro lado, dar um tom menos agressivo e mais suave ao seu cantar. As notas altas continuam marcando presença, mas os tons médios e graves estão muito bem explorados também. Enfim, uma senhora cantora! Quanto aos arranjos do disco, são eles os responsáveis pela identidade entre as faixas. Um contrabaixo que se sobressai e um piano que tende ao discreto dão ao disco um tom inevitavelmente bluesy - que tira Célia da mesmice reinante na MPB de hoje e a faz se destacar como cantora. Mas o charme e as sutilezas do disco ficam por conta do instrumental. Porque, tendo a base piano-e-baixo quase sempre mantida, sobra espaço para intervenções instrumentais tão agradáveis quanto criativas. Como, por exemplo, a de um conjunto de cordas bem adocicadas, de uma harpa surpreendente, de um trompete jazzeiro, de um clarinete a la saudade, ou mesmo de um acordeão ou de um bandoneón (que hoje até já se fazem batidos, tanto tem sido o uso). No que se refere ao repertório, o disco de Célia também marca pontos. 1) Porque resgata composições realmente esquecidas ou inesperadas - como "Êxtase" (de Guilherme Arantes - que vem sendo bem regravado ultimamente), "Cantiga de quem está só" (dos craques Evaldo Gouveia e Jair Amorim) e "Não se vá" (o standart kitsch, interpretada originalmente pela dupla Jane e Herondy). 2) Porque se vale de clássicos não tão óbvios, resgatando uma memória afetiva interessante, sem deixar de surpreender - casos de "Apelo" (de Vinicius de Moraes e Baden Powell), em um arranjo totalmente diferente daqueles que se costuma ouvir, e de "Meu benzinho", linda composição da sempre desconcertante Angela Ro Ro. 3) Mas principalmente porque Célia consegue dialogar com compositores de hoje, tendo gravado obras de Ana Carolina com Antonio Villeroy (a pungente "Aqui", já muito bem defendida pelos seus dois autores), Zélia Duncan com Hamilton de Holanda (a mais linda faixa do disco, "Desejo de mulher", mostrando que as parcerias de Zélia só têm feito render) e Zeca Baleiro (em uma versão bem pesada de "Cigarro"). Dizer que o repertório inteiro do disco é bom seria um exagero. Há altos - já citados - e baixos, é claro. Por exemplo: sem embargo de "Sonhos" (de Peninha) ser uma canção até interessante, ela e seu compositor já vêm sendo resgavados há algum tempo e Célia não consegue adicionar nada em sua interpretação. A cantora poderia ter "descido" ainda mais fundo no baú da MPB supostamente brega e ter pescado algo realmente surpreendente. O estilo e a sonoridade sofisticados do disco permitiriam à artista trazer algo verdadeiramente trash ao universo da MPB, causando um impacto ainda maior e dando mais sentido ainda ao título do disco. Mas, no geral, Célia vem com um trabalho que merece respeito. Porque envolve a cantora em uma aura de capricho e refinamento (muito por conta da belíssima capa) a que ela já fazia jus há tempos. Porque é ousado em certa medida, revela um lado oculto da cantora (o da sofisticação que não busca o caminho fácil), passeia no tempo e não soa banal. Não é para se ouvir e sair cantando. É para se ouvir sozinho, quieto, prestando atenção em cada detalhe. Como um vinho antigo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Que prazer saber você de volta caro Blogger. Eu estava até preocupado e devo agradecer por todas estas últimas coisas que descubri no seu blog.
ResponderExcluirEu gostaria ser avisado se um dia você mudava dce endereço de novo e eu queria ter a chance de lhe encontrar novamente em breve se acontecer.
Por isto eu deixou meu email para você se puder me indicar o que eu devo fazer para seguir este blog e ser avisado de qualquer mudança;
Forte abraço
Christophe Rousseau (St Tropez e Niteroi)
crisdobrasil2005@hotmail.com
Chris,
ResponderExcluirA idéia é não incomodar muito os caras que nos desligam.
è ficar discreto.
Abços
Gringgo